Ozônio no Sangue – Estudo Científico
O ozônio (O3) é uma molécula constituída por três átomos de oxigênio, amplamente conhecida por seu elevado potencial oxidante, desta forma a terapia com o O3 é caracterizada por ser bio-oxidativa e paradoxal, uma vez que induz a transcrição de muitos elementos de resposta antioxidante no organismo, entre outras atividades.
Para melhor esclarecer o mecanismo de ação do ozônio, Bocci, Zanardi e Travagli (2011) realizaram um estudo com o objetivo de analisar por que o ozônio pode ser clinicamente útil quando se dissolve no sangue ou em outros fluidos biológicos.
Ao misturar sangue com um oxidante como o ozônio, ocorre um estresse oxidativo calculado e preciso, isto é, uma mudança homeostática com a produção de mensageiros altamente reativos.
O estresse oxidativo, como muitos outros, induz uma resposta biológica levando a um fenômeno adaptativo.
O objetivo dessa resposta é universal, de bactérias a plantas e mamíferos, pequenas tensões repetitivas induzem uma resposta de adaptação extremamente útil representada pelo renascimento de mecanismos críticos de defesa.
Como já citado, em termos de potencial de oxidação (E°), o ozônio (2,07 V) é o terceiro maior oxidante depois dos radicais flúor (3,06 V) e hidroxila (2,80 V).
Além disso, o O3 possui um número par de elétrons na órbita externa e, embora não seja uma molécula radical, é muito mais reativo do que oxigênio (O2) gerando rapidamente algumas Espécies Reativas de Oxigênio (ROS).
É muito instável e a 20 ° C, com meia-vida de cerca de 40 minutos, decompõe-se em O2.
As reações bioquímicas do ozônio com o sangue acontecem assim que a mistura oxigênio-ozônio se dissolve na água do plasma, visto que o ozônio é cerca de dez vezes mais solúvel que o oxigênio.
Assim, reage instantaneamente com antioxidantes hidrofílicos. Ao mesmo tempo, o ozônio restante realiza a peroxidação dos ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) disponíveis, que representam um substrato eletivo e são principalmente ligados à albumina.
A peroxidação de n6 PUFA leva à formação de H2O2 (peróxido de hidrogênio) e 4-hidroxi2E-nonenal (4-HNE), enquanto n-3 PUFA leva à formação de 4-hidroxi-2E-hexenal (4-HHE).
Portanto, dentro de 5 minutos, o ozônio está totalmente extinto com uma pequena depleção de antioxidantes hidrossolúveis e o aumento plasmático simultâneo de Espécies Reativas de Oxigênio (ROS) e Produtos de Oxidação lipídica (LOP).
A concentração das Espécies Reativas de Oxigênio como o peróxido de hidrogênio (H2O2), embora pequena, é suficiente para desencadear várias reações bioquímicas cruciais sem toxicidade, porque o ambiente interno da célula contém uma grande quantidade de anti-oxidantes como GSH, tioredoxina, catalase e GSH-Px, que não permitem um aumento perigoso à integridade celular.
Assim, a ozonização terapêutica modifica apenas temporariamente e reversivelmente a homeostase redox celular, comprovando a segurança do ozônio.
Em resumo, a interrupção inicial da homeostase devido à oxidação do ozônio é seguida pelo rápido restabelecimento da homeostase com duas vantagens principais: a primeira é o valor de desencadear várias reações bioquímicas nas células sanguíneas e a segunda mediada por compostos da LOP, a indução de um processo adaptativo devido à regulação positiva das enzimas antioxidantes.
O ozônio ainda age sobre as células sanguíneas, nos eritrócitos, atua melhorando a circulação sanguínea e o fornecimento de oxigênio ao tecido isquêmico devido ao efeito combinado de óxido nítrico (NO) e monóxido de carbono (CO) e aumento do nível intra-artrocítico de 2,3-DPG.
Melhorando a entrega de oxigênio, aumenta também o metabolismo geral. Nos leucócitos, foi verificado que a atividade fagocitária dos neutrófilos foi aprimorada durante a ozonioterapia. Embora o ozônio seja um indutor muito modesto de algumas citocinas, o consequente efeito imunomodulador pode ser útil em pacientes imunodeprimidos após quimioterapia ou em doenças infecciosas crônicas.
Deve ficar claro que o ozônio em si não pode existir na circulação e, além disso, devido à potente capacidade antioxidante do plasma, é incapaz de matar quaisquer patógenos in vivo, enquanto um sistema imunológico ativado pode ser útil.
Portanto, o O3 ainda induz uma ativação leve do sistema imunológico e aumenta a liberação de fatores de crescimento das plaquetas.
Os autores ainda ressaltam as respostas não apenas biológicas, mas também clínicas, que devem ser levadas em consideração ao usar a ozonioterapia em patologias bastante diferentes, como doenças cardiovasculares, doenças autoimunes ou ortopédicas.
A resposta à dose hormética parece ser útil para descrever a resposta farmacológica dupla desencadeada pelo ozônio, basicamente atuando como um pró-medicamento.
Outro aspecto interessante observado em cerca de em muitos pacientes é uma sensação de bem-estar e energia física ao longo da auto-hemoterapia com ozônio. Ainda não se sabe se esses sentimentos se devem ao poder dos mensageiros de ozônio gerados, que podem modificar ou melhorar a secreção hormonal.
Por outro lado, o sentimento da euforia pode ser devido à oxigenação aprimorada ou/e à secreção aumentada do hormônio do crescimento, ACTH-cortisol e desidroepiandrosterona.
Além disso, quando a LOP atinge a área hipotalâmica, pode melhorar a liberação de serotonina e endorfinas, como foi observado após intenso exercício dinâmico.
O termo Hormese é definido como uma resposta adaptativa das células e dos organismos a um estresse moderado (normalmente intermitente), nesse conceito uma mesma substância ou composto em baixas doses, pode mostrar um efeito estimulatório ou benéfico ao organismo exposto, e em altas doses pode mostrar efeito inibitório ou tóxico. Esta inversão de resposta é dita bifásica, ao contrário da resposta monofásica usual (aumentando-se a dose, aumenta-se o efeito tóxico).
Segundo o estudo, existe um amplo consenso sobre a relevância da indução de moléculas protetoras durante o leve estresse oxidativo, porém repetido ocasionado por exemplo, pela auto-hemoterapia com o O3.
Em outras palavras, o conceito de que um estresse oxidativo controlado com precisão pode fortalecer as defesas antioxidantes é bem aceito hoje. Além disso, como ocorre para os traços fisiológicos mencionados de outros gases, a pequena quantidade de ozônio necessária para desencadear efeitos biológicos úteis está alinhada com o conceito da teoria da Hormese.
Os autores concluíram que existe uma relação dose-resposta como um modelo hormético em forma de U invertido com uma breve falta de efeito inicial devido à potência dos antioxidantes no sangue. Assim nas doses e concentrações adequadas o ozônio atua como um modificador da resposta biológica e um indutor antioxidante.
BOCCI, V. A.; ZANARDI, I; TRAVAGLI, V. Ozone acting on human blood yields a hormetic dose-response relationship. J Transl Med, London, v.9, n.66, p.1-11, 2011.
Fonte: PHILIZON